A festa de Nossa Senhora das Montanhas
O festival acontece todos os anos, na Vila de Címbres, em
Pesqueira, Agreste pernambucano, é comemorada a Festa de Nossa Senhora das
Montanhas, padroeira do lugar. As celebrações começam no dia 23 de junho com a
Buscada da Lenha. Os indígenas, cristianizados pelos oratorianos em
meados de 1661, vão ao mato colher os restos de um angico derrubado de
véspera, e voltam em procissão, a fim de acender em frente à igreja uma
fogueira como forma de reverencia a divindade da natureza.Para a Igreja
Católica a festa é para Nossa Senhora das Montanhas. Para os
indígenas Xukuru do ororubá é para mãe Tamain.
Logo após tem início a Novena, que se estenderá
até o dia 1º de julho, quando é feita a festa oficial da santa. Mas, ao final
do primeiro dia, já acontece uma outra celebração, em que os índios tocam o
toré na Pedra Sagrada, e caminham de pés nus sobre as brasas da fogueira. São
convocados os antepassados da tribo, a fim de que comemorem juntos com os
vivos. E para que os mortos convidados não se percam de seus familiares na
multidão, cada família traz na cabeça flores de cores diversas, que os
identificam.
O ponto culminante da festa é a procissão,
que reúne pelo menos 5 mil pessoas, também tem parque de
diversão,bacamarteiros,cangaceiros, barracas de lanches e bares.
A festa
não aparece como ruptura com o cotidiano, mas antes, como o seu
engrandecimento, momento em que energias acumuladas “explodem” e toda a
alegria, a exuberância, a beleza, a quebra das regras, o exagero são
manifestados (LEFEBVRE, 1958).
Essa curiosa celebração
tem semelhanças aos cultos pagãos, de forte relação e diálogo com os
elementos da natureza, cultos estes que traziam a garantia de fartura, de
fertilidade e de proteção contra catástrofes naturais.
A festa era, portanto, o
momento oportuno para agradecer à natureza pela colheita recente e farta, a
alegria e a energia do encontro e da atividade coletiva durante o período solsticial, que é o limite
máximo alcançado pelo sol no horizonte dando a impressão de estabilização. Nesse
dia, será a noite mais longa do ano, pois é quando recebe a menor quantidade de
raios solares.
Com o crescimento do poder da Igreja Católica sobre a sociedade, a
festa (da e para a natureza) começou a representar uma ameaça à moral, à
ordem, segundo os preceitos cristãos. A prática da festa deveria ser, portanto,
absorvida pelos seus dogmas, sendo o calendário religioso um dos instrumentos
desta cooptação.
A
Igreja alterou os dias santificados para que coincidissem com os meses de
trabalho mais leves, do inverno à primavera, do Natal à Páscoa, unindo o
calendário católico ao agrário.Assim, a Igreja poderia ter o controle sobre a
vida do homem na sociedade.
consequentemente,como
explica Thompson(1998: 51): A Igreja, ao permitir a permanência de alguns
elementos ( os considerados“inof ensivos”) das manifestações festivas pagãs,
foi caracterizando-os como “folclóricas” e que desempenham funções sociais
no grupo indígena Xukuru do Ororubpa, através da transmissão de
crenças e costumes, as
quais se sintetizam como práticas estabelecedoras de elos entre o antepassado
remoto e o presente que resistem quando ligados à superestrutura econômica e
social.
A festa
indígena de Cimbres expressa às apropriações e reinterpretações pelos Xukuru
dos espaços e símbolos religiosos coloniais. e, constituíram em uma forma de
afirmação cultural-étnica, de fortalecimento nas reivindicações dos direitos
indígenas. Como expressam os Xukuru: mãe Tamain é aquela que leva a gente pra
luta.com a força de Mãe Tamain, ninguém para a gente não. Mesmo quando nos era
mais perseguido, nossa mãe sempre protegeu nosso ritual aqui na vila”. Visto
que “Tamain nasceu em Cimbres, ela era um cabocla”. (NEVES, 1999, P.182)
foto 1. Imagem de nossa Senhora das montanhas.
foto 2. oferenda de agradescimento tamain.
foto 4. missa.
foto 5. apresentações,cortejos e momentos de coletividade.
foto 6.procissão.
foto7.mastro.
foto 8. interior da igreja de cimbres
foto 9. decoração para temporada de festas.
foto 10. fies em momentos de fé e resistência cultural.
créditos fotográficos:
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